A importância da Triagem Auditiva Neonatal

triagem auditiva neonatal

Escrito por Sigla Educacional

22 de janeiro de 2025

A Triagem Auditiva Neonatal (TANU) é uma medida crítica de saúde pública para identificação precoce da perda auditiva, garantindo acesso oportuno a intervenções que podem melhorar drasticamente o desenvolvimento da linguagem, as habilidades cognitivas e a inclusão social de uma criança. Além dos benefícios clínicos, a TANU oferece vantagens de longo prazo em educação e qualidade de vida. A TANU é uma estratégia que pode identificar, diagnosticas e intervir precocemente na deficiência auditiva congênita nessa população e, sendo a universalidade um dos princípios do SUS, a meta é realizar a TANU em 98-100% dos nascidos.

Via de regra, a TANU deve considerar a triagem auditiva, seguida de diagnóstico e, em caso de falha, a intervenção apropriada. Portanto, a identificação da alteração auditiva deve ser realizada até o final do primeiro mês, o diagnóstico entre o segundo e o terceiro mês. Já a intervenção deve ocorrer entre o terceiro e o sexto mês.

Quando pensamos nos profissionais envolvidos em cada etapa, o fonoaudiólogo é o responsável pela triagem auditiva, tanto pelo teste como pelo reteste e pelo encaminhamento para o diagnóstico preciso. O diagnóstico fica sob responsabilidade do médico e do fonoaudiólogo. A intervenção será multiprofissionais já que envolve a seleção de indicação da melhor solução auditiva, terapia fonoaudiológica, apoio familiar, outros tipos de terapias e intervenções que se façam necessárias para cada caso.

TANU

No Brasil enfrentamos múltiplos desafios para que essa cadeia de fatos ocorra, não temos profissionais em todos os locais. Mas isso não é exclusividade do Brasil, na Europa, embora muitas nações tenham adotado o TANU, a consistência continua sendo um desafio. Países como a Noruega e o Reino Unido se destacam por seus sistemas bem estabelecidos, enquanto outros, como a Grécia, fizeram progressos notáveis, mas ainda não tornaram obrigatório o TANU em todo o país. Isso destaca a necessidade de políticas nacionais coesas em toda a Europa para garantir cobertura universal. Métodos de triagem como Emissões Otoacústicas (EOA) e a audiometria de tronco encefálico (PEATE) são ferramentas estabelecidas para detectar deficiências auditivas em neonatos.

Apesar de sua eficácia demonstrada, a TANU continua inconsistente globalmente, particularmente em regiões de baixa e média renda que não têm políticas obrigatórias ou acesso a tecnologias de triagem confiáveis. Essa perspectiva defende a necessidade urgente de tornar a TANU obrigatória em todos os países, enfatizando seus benefícios sociais e custo-efetividade. O diagnóstico precoce apoia a intervenção rápida, como aparelhos auditivos ou implantes cocleares, que são mais eficazes quando implementados antes dos seis meses. Ele também capacita as famílias a tomar decisões informadas, promove a inclusão educacional e atenua os desafios sociais e emocionais da perda auditiva não diagnosticada. Os formuladores de políticas públicas, provedores de saúde e organizações internacionais devem priorizar o NHS universal para garantir que nenhuma criança seja deixada para trás devido à perda auditiva não tratada.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 34 milhões de crianças em todo o mundo vivem com perda auditiva incapacitante e que quase 60% dos casos de perda auditiva infantil poderiam ter sido prevenidos por meio de medidas de saúde pública, como imunização e melhores cuidados pré-natais e neonatais.

Em países de alta renda, os programas da TANU reduziram com sucesso os impactos de longo prazo da perda auditiva, garantindo que as crianças tenham acesso a aparelhos auditivos, implantes cocleares e terapia fonoaudiológica precoce. No entanto, os programas da TANU não são implementados de forma consistente em todo o mundo, muitas vezes devido a disparidades econômicas, políticas inadequadas ou falta de requisitos de triagem obrigatória.

A expansão do acesso à TANU em todo o mundo pode ajudar a preencher essa lacuna, garantindo suporte e intervenção precoces para crianças com perda auditiva em todas as regiões.

A TANU deveria ser universalmente obrigatória como um imperativo ético e social, promovendo oportunidades iguais para todas as crianças. A existência de programas acessíveis e bem coordenados, juntamente com maior conscientização pública, busca garantir que os pais entendam o valor da triagem precoce e sejam encorajados a utilizar esses serviços para o desenvolvimento de seus filhos.

Tornar a TANU obrigatória em todo o mundo é uma obrigação ética. Toda criança merece acesso a cuidados de saúde que maximizem seu potencial de desenvolvimento, e a audição é fundamental para esse crescimento. A OMS destacou a saúde auditiva como essencial para a inclusão social, educação e bem-estar geral de uma criança.

A identificação precoce da deficiência auditiva seguida de intervenção rápida oferece às crianças um começo igual, garantindo que elas possam desenvolver habilidades de linguagem, capacidades cognitivas e interações sociais junto com seus pares ouvintes. A equidade em saúde apoia ainda mais esse apelo por uma TANU universal. Atualmente, a disponibilidade da TANU geralmente depende dos recursos econômicos e da infraestrutura de saúde de um país, deixando as crianças em regiões de baixa renda em desvantagem.

Tornar a TANU obrigatória em todo o mundo não apenas se alinha com a equidade em saúde, mas também afirma o direito ético de cada criança de acessar cuidados de saúde que promovam seu potencial máximo, independentemente de barreiras socioeconômicas ou geográficas.

A intervenção precoce após a Triagem Auditiva Neonatal tem um impacto transformador em todos os aspectos do desenvolvimento de uma criança. Quando as deficiências auditivas são detectadas nos primeiros meses de vida, a intervenção imediata pode começar oferecendo suporte crítico durante um período em que o cérebro está especialmente receptivo à linguagem e à entrada do desenvolvimento. A pesquisa indica que crianças com perda auditiva que recebem intervenção aos seis meses de idade geralmente alcançam resultados de desenvolvimento comparáveis ​​aos de seus pares ouvintes em vários domínios.

Quando pensamos em linguagem e desenvolvimento cognitivo, a audição é a “porta de entrada” para a linguagem. A intervenção precoce por meio de aparelhos auditivos, implantes cocleares e terapia da fala permite que as crianças acessem o som, preparando o cenário para o desenvolvimento de habilidades de linguagem essenciais para a comunicação e o pensamento.

Sem intervenção, crianças com deficiência auditiva enfrentam barreiras significativas para a aquisição da linguagem, o que pode impactar o aprendizado e a interação social. Quando a intervenção é oportuna, as crianças podem construir vocabulário, entender a sintaxe e desenvolver uma linguagem expressiva, estabelecendo uma base cognitiva para o aprendizado ao longo da vida e a resolução eficaz de problemas.

O bem-estar emocional e psicológico também merece atenção, o apoio oportuno ajuda as crianças a evitar a frustração, o isolamento e a baixa autoestima que frequentemente acompanham a perda auditiva não diagnosticada. Ao permitir a comunicação, a intervenção precoce capacita as crianças a expressarem as suas emoções, a conectarem-se com os membros da família e a construírem amizades, o que promove a confiança e a resiliência. Este bem-estar psicológico é fundamental para desenvolver uma autoestima saudável e um envolvimento positivo com os outros.

O desenvolvimento e inclusão social nos levam a pensar nas habilidades sociais que são desenvolvidas, principalmente, por meio da interação e da comunicação. Sem apoio, crianças com deficiência auditiva podem ter dificuldade para se envolver com os colegas, atrasando o desenvolvimento de habilidades sociais e muitas vezes levando ao isolamento. A intervenção precoce equipa essas crianças com habilidades essenciais de comunicação, permitindo que formem amizades, participem de atividades em grupo e se sintam incluídas em suas comunidades — promovendo a harmonia social e um forte senso de pertencimento.

A educação é outro pilar que merece atenção, o Potencial Educacional e Sucesso Acadêmico dependem muito da linguagem e da cognição, ambas afetadas pela perda auditiva. A intervenção precoce garante que as crianças desenvolvam habilidades de linguagem a tempo para a escola, reduzindo a necessidade de educação especializada mais tarde e apoiando o sucesso na sala de aula convencional. Estudos indicam que crianças com perda auditiva precocemente apoiada têm melhor desempenho acadêmico, fortalecendo sua base para uma jornada educacional gratificante.

Por “obrigatório”, me refiro ao estabelecimento de um sistema de TANU universalmente acessível e centralmente organizado, apoiado por educação abrangente para famílias sobre a importância da detecção precoce da audição. Não se trata de execução legal, mas sim de criar uma estrutura que incentive a participação informada dos pais e garanta acesso equitativo à intervenção precoce para todas as crianças.

Portanto, a todos cabe lutar por uma TANU universal para que todos tenham as mesmas possibilidades de desenvolvimento.

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