Supressão do Braço Curto do Cromossomo 6

cromossomo 6

Escrito por Sigla Educacional

2 de junho de 2025

Supressão do Braço Curto do Cromossomo 6

Resumo
A deleção do braço curto do cromossomo 6 (6p) é uma condição genética rara e altamente variável em suas manifestações clínicas. O caso da britânica Olivia Farnsworth, uma criança diagnosticada com essa condição, ganhou notoriedade internacional ao evidenciar sintomas extremamente incomuns, como a incapacidade de sentir dor, fome ou cansaço. Este artigo apresenta uma visão geral da síndrome, partindo do caso clínico como exemplo introdutório, e aprofunda os aspectos genéticos, fenotípicos e implicações clínicas da supressão de 6p.

  1. Introdução: O Caso de Olivia Farnsworth

A história da britânica Olivia Farnsworth, diagnosticada com a deleção do braço curto do cromossomo 6, exemplifica a complexidade e raridade dessa condição genética. Aos 10 anos, Olivia sobreviveu a um atropelamento em que foi arrastada por cerca de 40 metros, sem demonstrar dor ou sofrer ferimentos graves. O episódio chamou a atenção da comunidade médica mundial e levou à identificação de uma deleção genética em seu cromossomo 6, especificamente na região 6p.

Desde os primeiros meses de vida, Olivia já apresentava sinais atípicos: ausência de choro mesmo após quedas, rejeição alimentar e padrões de sono profundamente alterados — dormia apenas duas horas por noite por vários anos. Esses sinais, inicialmente isolados, foram associados à síndrome após investigações genéticas. A condição está registrada em apenas cerca de 100 pessoas em todo o mundo, segundo o grupo britânico Unique, especializado em distúrbios cromossômicos raros.

Além da insensibilidade à dor, fome e cansaço, Olivia também apresenta episódios de explosões emocionais e comportamento agressivo. No entanto, com apoio médico, educacional e familiar, ela tem se adaptado à sua realidade, utilizando medicamentos para regular o sono e adotando uma alimentação seletiva. A família, com suporte do Unique, busca conscientizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico e do respeito às diferenças genéticas invisíveis.

Esse caso ilustra o amplo espectro fenotípico que pode ser observado em deleções de 6p e ressalta a importância de investigações genéticas diante de quadros clínicos atípicos.

  1. Tipos de Deleções em 6p

As deleções do braço curto do cromossomo 6 podem ser classificadas em:

  • Deleções terminais: Ocorrem na extremidade distal (6pter), resultando na perda de genes localizados no final do cromossomo.
  • Deleções intersticiais: Caracterizam-se pela ausência de segmentos internos do cromossomo, preservando as extremidades.

A extensão da deleção influencia diretamente a severidade do quadro clínico.

  1. Manifestações Clínicas Frequentes

Os indivíduos com deleção em 6p podem apresentar:

  • Atraso no desenvolvimento: Inclui dificuldades motoras e cognitivas desde os primeiros anos de vida.
  • Características dismórficas: Podem incluir ponte nasal larga, micrognatia, alterações auriculares e oculares.
  • Anomalias neurológicas: Como a malformação de Dandy-Walker, que afeta o cerebelo e o quarto ventrículo.
  • Alterações oculares: Incluem anomalias da câmara anterior e glaucoma congênito.
  • Déficit auditivo: Presente em muitos casos, com perda auditiva sensorioneural.
  • Cardiopatias congênitas: Como defeitos no septo ventricular.
  • Outros sinais: Hipotonia, microcefalia, alterações genitais e alterações comportamentais.
  1. Genes Envolvidos

A variabilidade fenotípica decorre dos genes afetados pela deleção. O principal gene associado é:

  • FOXC1 (6p25): Relacionado ao desenvolvimento ocular e cerebral, especialmente implicado em casos de glaucoma, disgenesia da câmara anterior e malformações cerebelares como a síndrome de Axenfeld-Rieger.

Outros genes localizados em diferentes regiões de 6p também podem contribuir para manifestações neurológicas, auditivas e cardíacas, dependendo da extensão da perda genética.

  1. Variabilidade Clínica e Diagnóstico

A expressividade clínica da deleção de 6p é altamente variável. Indivíduos com perdas genéticas semelhantes podem apresentar quadros clínicos muito distintos. Isso reforça a importância da caracterização molecular precisa, frequentemente realizada por meio de CGH-array ou sequenciamento genômico.

Casos como o de Olivia Farnsworth destacam que nem todos os sinais clínicos são visíveis ou óbvios. A ausência de dor, fome e cansaço é um fenômeno raríssimo, mas possível, dentro do espectro de alterações neurossensoriais associadas à síndrome.

  1. Conclusão

A supressão do braço curto do cromossomo 6 é uma condição genética rara e complexa, com manifestações clínicas altamente variáveis. O caso de Olivia Farnsworth serve como uma introdução impactante para a compreensão dos efeitos potencialmente inesperados dessa deleção. A abordagem diagnóstica precisa e o suporte multidisciplinar são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos afetados e para aprofundar o conhecimento sobre esse distúrbio cromossômico.

Referências

  1. Güngör O, Ekici AB, Değirmenci E, et al. A terminal deletion of the short arm of chromosome 6: genotype-phenotype correlation and review of literature. Molecular Cytogenetics. 2012;5(17). doi:10.1186/1755-8166-5-17.
  2. Unique. Deletions from 6p25 and the end of the chromosome. Unique – Understanding Chromosome Disorders. Disponível em: https://rarechromo.org
  3. Uehara S, et al. Terminal 6p deletion syndrome: clinical features and underlying molecular mechanisms. Front Pediatr. 2021;9:651404. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8310580/
  4. The Huffington Post. Girl with rare chromosome disorder doesn’t feel pain, hunger or fatigue. Disponível em: https://www.huffpost.com/entry/olivia-farnsworth_n_56c4d59ae4b08ffac1276cbf

 

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