A Ciência por Trás da Voz: Como a Prosódia Revela Nossas Emoções no Português Brasileiro
Você já reparou como o tom da sua voz muda quando você está feliz, com raiva ou triste? A relação entre voz e linguagem representa uma das manifestações mais complexas da comunicação humana, na qual aspectos acústicos e prosódicos refletem não apenas a estrutura linguística, mas também dimensões emocionais e cognitivas. Segundo González Torre et al. (2017), as leis linguísticas emergem naturalmente da organização da voz humana, revelando padrões universais de frequência, duração e intensidade que transcendem a mera articulação de sons e configuram uma base física para a linguagem. Nesse contexto, a prosódia, compreendida como o conjunto de variações de entonação, ritmo e intensidade, assume papel central na expressão das emoções e na construção do significado comunicativo. A análise da prosódia emocional permite compreender como diferentes estados afetivos modulam o comportamento acústico da fala, evidenciando que as emoções não apenas alteram a percepção auditiva, mas também influenciam a fisiologia vocal e o controle respiratório durante a produção da fala. Assim, investigar as medidas acústico-prosódicas associadas às emoções oferece um caminho promissor para compreender os mecanismos da expressividade vocal e suas aplicações em áreas como inteligência artificial, reconhecimento de fala e saúde mental (González Torre et al., 2017).
A forma como falamos, o ritmo, a entonação e o volume, carrega uma carga emocional que, muitas vezes, é mais reveladora do que as próprias palavras. Este conjunto de propriedades da fala é chamado de prosódia, e ela é usualmente estudada a partir da análise de três parâmetros fonético-acústicos clássicos: duração, frequência fundamental e intensidade (que se relaciona com a loudness/volume).
Um estudo recente de Aguiar et al (2005) investigou as diferenças nas medidas acústico-prosódicas de falantes do Português Brasileiro (PB) em diferentes estados emocionais. A pesquisa confirmou que as medidas acústico-prosódicas demonstraram ser ferramentas eficazes para diferenciar emoções em falantes do PB.
O que a Frase “Olha lá o avião azul” Revelou
A amostra de dados consistiu em 182 sinais de áudio produzidos por atores brasileiros (profissionais ou estudantes). Os participantes realizaram a tarefa de fala semi-espontânea da frase “Olha lá o avião azul”1, expressando seis emoções básicas (alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa, nojo) e uma emissão neutra.
Foram extraídos e comparados os valores de duração, frequência fundamental e intensidade de cada uma das emoções para verificar sua capacidade de discriminação.











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