Gripe aviária: nova pandemia humana?

gripe aviária

Escrito por Sigla Educacional

15 de julho de 2024

Você sabia que a gripe aviária pode se tornar uma nova pandemia humana? Será que estamos preparados?

Artigo recente da Revista Nature reforça a necessidade de toda comunidade estar atenta a esse novo risco.

Com o aumento dos casos de gripe aviária em gado nos Estados Unidos, o país está se preparando para a possibilidade de o vírus se espalhar entre humanos.

gripe aviáriaAssim como nos Estados Unidos, outros países ricos já estão atentos e reforçando seus estoques de vacinas contra a gripe H5N1 e reforçando a vigilância, mas não estão tranquilos, já que países de baixa renda podem ficar para trás e, como vimos na pandemia de COVID-19, não basta que poucos se vacinem e adotem medidas sanitárias, o esforço tem que ser coletivo. “Embora este vírus atualmente não pareça capaz de causar uma pandemia, isso pode mudar completamente com uma única mutação”, afirma Scott Hensley, imunologista da Universidade da Pensilvânia.

A gripe aviária H5N1 altamente patogênica foi detectada em 145 rebanhos de gado e 4 trabalhadores rurais em uma dúzia de estados nos EUA. Pesquisadores acreditam que muitos casos em vacas e pessoas ainda não estão sem identificação. Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Saskatchewan, afirma que as chances de conter o surto diminuem a cada dia.

Estudos indicam que o vírus se espalha entre vacas por meio de equipamentos de ordenha contaminados, ao invés de partículas no ar. O maior risco é que o vírus evolua para infectar mamíferos mais eficazmente, incluindo pelo sistema respiratório, o que dificultaria sua contenção. Devido ao contato próximo entre vacas e humanos, a transmissão aérea seria o caminho para desencadear uma pandemia.

Os esforços de preparação incluem avaliações de risco, modelagem e previsões de surtos. Michelle Wille, ecologista de vírus da Universidade de Melbourne, diz que há muito planejamento e preparação internacionalmente. Nicole Lurie, da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), descreve a abordagem atual da coalizão como de “urgência calma”, comparando-a a calçar sapatos para correr se necessário.

Vacinando Pessoas

Um dos principais esforços de preparação para pandemias é a vacinação, que protegeria as pessoas caso o vírus H5N1 se espalhasse mais amplamente. A vacinação também reduziria o risco de o H5N1 se misturar com vírus da gripe sazonal.

Em maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revisou as vacinas disponíveis contra a gripe e confirmou que elas são eficazes contra o H5N1 em circulação no gado. Maria Van Kerkhove, da OMS, afirmou que, embora o risco atual para a saúde pública seja baixo, a organização está em constante prontidão para uma potencial pandemia de gripe.

Recentemente, a Comissão Europeia comprou cerca de 700.000 doses de uma vacina contra gripe da CSL Seqirus, com a opção de adquirir mais 40 milhões. Em junho, a Finlândia começou a vacinar trabalhadores de alto risco em fazendas de peles e aves contra a gripe aviária.

Angela Rasmussen sugere que outros países, especialmente os EUA, considerem a vacinação em trabalhadores de alto risco. Em maio, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS) comprou quase cinco milhões de doses adicionais da vacina CSL Seqirus.

Atualmente, as vacinas dependem de cepas inativadas de vírus cultivadas em ovos de galinha, que são baratas, mas lentas de produzir. Pesquisadores estão desenvolvendo vacinas de mRNA, que são mais rápidas de fabricar e podem ser atualizadas para novas cepas. Scott Hensley, que desenvolveu uma vacina de mRNA H5 testada em furões, afirma que essas vacinas podem ser amplamente utilizadas em caso de pandemia.

Na semana passada, o HHS anunciou um investimento de US$ 176 milhões para a Moderna desenvolver uma vacina de mRNA contra a gripe aviária. O CEPI está trabalhando para garantir uma resposta equitativa, destacando que metade dos suprimentos de vacinas já está comprometida por contratos ou controles de exportação, e é crucial garantir que as doses cheguem às pessoas que mais precisam.

Doses para Vacas

Os Estados Unidos e outros países estão explorando a possibilidade de vacinar o gado para reduzir a transmissão do H5N1. Jenna Guthmiller, imunologista da Universidade do Colorado, diz que isso poderia ser um esforço de mitigação significativo, incorporado a iniciativas já existentes de vacinação do gado.

Várias equipes de pesquisa estão desenvolvendo vacinas para gado, mas enfrentam desafios. Estudos indicam que o vírus encontra refúgio nas glândulas mamárias e células epiteliais do úbere, locais difíceis para induzir uma resposta imune protetora, segundo Diego Diel, virologista da Universidade Cornell, que está criando vacinas utilizando vírus de DNA inofensivos. Scott Hensley está testando sua vacina de mRNA em gado e suínos.

Uma preocupação é que as vacinas possam mascarar sintomas em animais ainda infecciosos, aumentando o risco para humanos, alerta Thomas Peacock, virologista do Imperial College London.

Martin Beer, virologista do Instituto Federal de Pesquisa para Saúde Animal na Alemanha, enfatiza que as vacinas devem ser uma última medida, após a implementação de outras estratégias de contenção, protegendo contra “um cenário de pior caso”.

Vigilância

Para se antecipar ao vírus, os países intensificaram a vigilância com testes ampliados em pessoas e animais. Antes do surto nos EUA, não se acreditava que o gado pudesse ser infectado pela gripe aviária. Agora, esforços estão em andamento para desenvolver testes específicos para esse hospedeiro.

Isabella Monne, do Instituto Zooprofilático Experimental de Veneza, na Itália, está criando e avaliando ferramentas para ajudar laboratórios europeus a detectar partículas virais e anticorpos em sangue e leite de vaca, evidências de infecção passada. Grupos na Europa, Canadá e EUA começaram a testar amostras de sangue de vaca ou leite a granel.

Pesquisadores também estão monitorando sequências do genoma do vírus para identificar mutações que aumentem sua capacidade de infectar células das vias aéreas superiores, o que elevaria o risco para humanos.

Um grupo criou uma biblioteca de possíveis mutações de aminoácidos na proteína hemaglutinina, usada pelo vírus para entrar nas células. Eles testaram a ligação dessas proteínas mutadas aos receptores das vias aéreas superiores humanas e sua estabilidade em ambientes ácidos. Essas características são “conhecidas por se correlacionarem com a transição de vírus de hospedeiros aviários para mamíferos e pandemias”, diz Thomas Peacock. Essa varredura de mutações pode permitir a previsão de risco em tempo real.

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